O irmão da minha mãe, que também é meu dindo, há uns três, quatro anos atrás, teve um tumor no cérebro. Cara pacato, que raramente responde quando contrariado, faz tudo quieto e, do meu ponto de vista garota enchaqueca de ser, engole muito sapo.

Pra tirar tudo de ruim do tumor, removeram também o olho dele. Um olho de mentira dá uma aparência estranha e demora pra acostumar, mas pra quem podia ter deixado de existir, dos males o menor.

Pessoas que tem doenças assim fazem acompanhamentos períodicos, pra ver se continua tudo ok e agora, no mês passado, num exame de rotina apareceu uma mancha no cérebro dele. O laboratório anotou embaixo: grave. Recebido o exame numa sexta-feira, desespero total no final de semana, minhas primas chorando, minha dinda surtando. Segunda-feira, ao mostrarem o exame pro médico, o cara disse que não era nada, que isso era apenas uma mancha da radioterapia e que estava tudo ótimo. Que voltasse em março, como de rotina.

Pois bem, liguei pra ele pra ele na segunda de noite:

- Oi, liguei só pra dizer que fiquei muito feliz que deu tudo certo hoje, que alívio né?

- zzzz tjhtkwhe zzzz ... nem me fala ... zzzzldjfclsdjf uiuiuallfjjsl ... agora posso viver até março ... alsdsfjdaffdfdflskjfdlsdjffnfjzzz.... tem que aproveitar cada momento .... zzzz mnaskdjdi pppppp...

- então tá. quando eu for aí eu te dou um abraço. Beijo.

- Beijo.

E graças a Brasil Telecom, Embratel ou seja lá quem for a operadora responsável, perdi o que pode ter sido uma das melhores lições, das passadas oralmente, da minha vida. Acho que mesmo se eu tivesse entendido o que ele falou eu não ia conseguir dizer nada interessante mesmo.